Eu tenho um segredo pra te contar: não sei se é assim que você me imagina, mas eu tenho a tendência de ser beeeem emocionada. A vida inteira assim. Uma pessoa intensa e que “se deixar”, toma decisões bem ruins levada pelo calor do momento. No nível de, se nesse exato instante o meu esposo aparecer na minha frente me chamando para ir para a Colômbia daqui a um mês, não tenha dúvidas de que eu já vou querer comprar a passagem nas próximas horas. Essa sou eu.
No entanto, por me conhecer eu tento criar barreiras contra mim mesma. E tem um elemento que me ajuda muito para que eu consiga ser uma pessoa mais ponderada na maior parte do tempo: a espera. Em especial a espera entre o auge da empolgação e a hora de fazer a compra.
Rolou algo mais ou menos assim esses dias.
A partir de julho, o Breno, meu esposo, precisará fazer mais viagens a trabalho pelo interior do estado e o nosso carro atual é um HB20 que este ano completa 9 anos de vida bem vivida. Isso nos acendeu um alerta sobre ter chegado o momento de trocarmos de carro.
Tem um tempo que é parte da nossa rotina mensal poupar 1.500 reais para quando esse dia chegasse, e temos algo próximo de 25 mil reais já separados pra isso, além do valor de venda do HB20 (uns 38 mil reais). Assim, temos uns 63 mil reais e um sonho, rs. E sendo honesta, a ideia de gastar com um carro não é algo que me brilha os olhos (ou pelo menos não brilhava). Então o que combinamos foi procurar algo o mais próximo possível de 63 mil de entrada + 1.500 reais de parcela. Uma compra praticamente indolor.
Ficou sob responsabilidade do Breno realizar uma pesquisa prévia e escolher dois ou três carros para conhecermos de perto. A ideia dessa pré-seleção seria evitar uma sobrecarga de escolhas, e – em especial - assumirmos um compromisso de analisar as opções em casa, ponderar, discutir, fazer conta... E esperar (lembra da minha aliada, certo?)
Assim chegamos na primeira concessionária. E agora uma pausa dramática pra: gente, vocês já VIRAM um HRV POR DENTRO? De verdade, jamais imaginei que um carro pudesse fazer tantas coisas. Só faltou falar. Aliás ele fala também, com uma central multimídia linda, seis airbags e tudo o mais que conquistou meu coração.
Após uma apresentação impecável, sentamos na mesa do vendedor. Ele nos apresentou algumas alternativas que não gostamos tanto, mas entramos de cabeça - junto com ele - na busca por soluções que viabilizassem a compra. Chegamos à “óbvia conclusão” de que seria absolutamente razoável pagar 108 mil reais de entrada + 21 parcelas de 2.800 reais. Distante do plano inicial, mas bem possível se as nossas empresas seguirem desempenhando como nos últimos 6 meses. Saímos de lá com a clareza de que essa não seria uma má escolha, afinal, QUE CARRO.
Direto de lá partimos para a segunda concessionária. Eu poderia resumir o nosso tempo na outra loja assim: depois do HRV, NADA mais tinha graça. Em resumo, aquele carro (que é bem melhor que nosso HB20 surradinho) não passa nem perto de um HRV. Pra completar, o vendedor foi difícil de engolir. Assim que nos viu perguntou: e cadê os filhos? Dentro da minha cabeça eu só pensava: sério? Mais uma pessoa me cobrando filhos? Kkkrying.
Saí de lá desgostosa. E caso decidíssemos por esse caminho, teríamos que dar uma entrada de 80 mil junto com 18 parcelas de 2.200 reais.
Bom, essas duas visitas ocuparam a nossa manhã de sábado e nos deram um bom panorama sobre o terreno. Esse mergulho nos permitiu colocar os números no papel e discutir desejos, prioridades, possibilidades, medos e uma série de outras coisas mais.
Planejadora que sou, cheguei em casa ansiosa para encontrar a narrativa necessária. Fui planilhar cenários (considerando IPVA, seguros, manutenção, juros, parcelas) na torcida pra que algo indicasse que a solução mais racional seria a compra do HRV. Bom, não rolou.
Não rolou em especial porque, para um casal de empresário e profissional autônoma, ter segurança financeira é algo crucial. Por mais que a ideia do carro super tecnológico seja apaixonante, brilha ainda mais para nós seguir com o nível de estabilidade que estamos construindo. Aumentar o padrão de gastos mensais teria um gosto amargo, sabe? A gente quer o carro? Sim. Mas não assim.
Agora, falando em gosto amargo, me pareceu ainda pior o segundo cenário em que desembolsamos 20 mil reais a mais que o desejado, aumentamos um pouco os gastos mensais e eliminamos a nossa capacidade de poupança por 18 meses pra comprar um não-HVR. A impressão é a de que eu assumiria uma despesa que me deixaria absolutamente ressentida.
Começamos então a refletir sobre o que de fato queremos e precisamos. Depois de uma conversa franca, acordamos que priorizamos a segurança financeira e na estrada. Então procuramos alternativas no meio do caminho que dessem conta do nosso desejo.
A ideia de resolver a questão da segurança na estrada e seguir poupando para comprar um carro ainda melhor daqui uns anos foi a que fez nossos olhos brilharem. Essa opção seria possível com a compra à vista (desembolsando uns 20 mil a mais, no ato) de um carro usado, assim decidimos estudar esse caminho.
A gente esperou, colocamos as emoções nos devidos lugares até que, uma semana depois, fomos ver um T-Cross de 2022 (que é o segundo carro, pra você que é curioso, hahaha).
E sabe, é interessante como são os nossos “olhos”. Ver aquele mesmo carro, pela segunda vez, teve um gosto completamente diferente. Vi um carro que é mais alto que o nosso, com uma central multimídia bem mais bonita, um conforto no banco que hoje não sou acostumada a ter, e honestamente, fiquei encantada.
Assinamos a papelada umas três semanas após o início da jornada e agora estamos de carro novo na garagem. Uma baita conquista e alegria digna de ser celebrada da melhor forma possível. Senti que, pra além de um aumento de conforto e segurança, essa compra nos proporciona liberdade…
É que a gente sempre tá um pouco mais livre quando parcela pra frente, e não pra trás, né não?
Mas um tipo de liberdade que nunca vi retratada em comerciais de carro na TV. Liberdade pra mudar de ideia lá na frente. Liberdade pra amadurecer as ideias. Liberdade pra não depender de estar sempre desempenhando muito bem na profissão. Liberdade pra lidar com imprevistos. Tá aí uma coisa que eu valorizo demais. A liberdade.
A espera tem sido minha principal parceira na conquista e manutenção da minha liberdade. E assim sigo sendo eu. Intensa. Emocionada. Humana.
Lore, esse texto está me fazendo refletir sobre uma situação que, a seu modo, se parece com a sua: a escolha da casa para onde vou mudar. Já fui e voltei nas ideias um zilhão de vezes. Mas o que sempre tem me botado de novo no centro é essa equação da segurança financeira x liberdade. Que ótimo foi te ler e trocar com você!
Quanta sabedoria prática em um mesmo texto. Acho que você conseguiu capturar o que em geral é muito dificil: materializar o que já sabemos ser uma boa prática. Pois entre saber o que deve ser feito e o fazer, pode haver um abismo. Quando fala da pausa como estratégia, torna aquilo que "parece" simples, no pulo do gato. A espera, o vazio, o espaço, são lugares de descanso, inclusive para as emoções. E como diria Rubem Alves, "é no vazio da jarra que se colocam as flores".
Curtam muito o carro novo e desejo ótimas e inspiradoras viagens.