Certa vez uma cliente percebeu o quanto vinha se apequenando para se fazer caber no limite do MEI. Um verdadeiro malabarismo: evitava emissão de notas, dispensava alguns serviços maiores, preferia nem ir tanto atrás de clientes pra não ter que “começar a pagar impostos”. Em nossos encontros, entendemos que ela – ainda que inconscientemente – se autorizava a faturar só os 81 mil reais anuais permitidos para essa categoria, e vinha deixando passar oportunidades para não precisar desenquadrar.
Ela só passou a se abrir para a possibilidade de vender para além desse teto quando começamos a colocar alguns sonhos dela no papel. E ela tem um bocado deles: viagens que ainda quer fazer, uma casa para comprar, poder ajudar financeiramente os pais. E, em um futuro mais distante, ter uma aposentadoria digna. Conversa vai, conversa vem, entendemos que no caso dela não há mais tantas despesas pra cortar. O caminho para uma série de realizações pessoais depende diretamente de ganhar mais.
E para chegar ao resultado desejado, entendeu que o faturamento do negócio teria que subir, o que implicaria encarar de frente uma nova realidade. Precisamos colocar na mesa assuntos como INSS, contabilidade, impostos, burocracias em geral, tudo aquilo que sempre evitou.
Ali, junto a ela, fiz as contas, expliquei conceitos e caminhos, e foi ficando cada vez mais claro que essa mudança seria algo muito mais simples e possível do que ela imaginou a vida inteira .
Encarar os números foi um baita empurrão para encontrar a coragem para os próximos passos. É como se a partir daquele momento o desafio de crescer tivesse tomado a proporção correta, e deixou de ser algo monstruoso. É desafio? É sim! Mas absolutamente possível.
Todo esse "cair de ficha" aconteceu para ela a partir do primeiro encontro e nos dias que se seguiram. Confesso que encontrar a mesma cliente na segunda sessão, já com uma postura muito mais confiante, proativa e realista, deu um tom muito mais agradável à consultoria, que hoje já está em sua fase final.
A partir desse momento, entendemos qual era o faturamento que ela almejava para o futuro. Se antes faturava em média 9.000 reais (sonegando parte para continuar como MEI), a meta agora é outra: 23.500 reais, pagando os impostos de maneira adequada. E eu sei que você pode estar achando que estamos malucas ao propor quase triplicar as receitas, mas esses números não foram inventados de forma aleatória. Há todo um estudo de modelo de negócio, precificação, disponibilidade de tempo, entre outros fatores que embasaram essa projeção .
Após garantir que os serviços oferecidos têm preços compatíveis com o faturamento almejado, avançamos para a etapa de comunicação. Como se comunicar para chegar aos clientes que pagam pelos serviços com maior margem? Quais contatos ela possui que poderiam favorecer esse processo?
Toda essa conversa resultou em um pequeno plano de comunicação, uma diretriz clara do que precisa ser feito semana a semana, mês a mês, trimestre a trimestre, para conseguir fechar novos contratos.
É engraçado que, ao terminar o desenho do plano, ela riu e comentou: "Isso aqui é tão arroz com feijão, muito básico". Às vezes, buscamos soluções milagrosas e mirabolantes, mas é o simples bem feito que faz as coisas acontecerem. Ela entendeu e emendou: “Simplesmente não tem como não funcionar".
Bom, eu não poderia concordar mais.
A trava que ela tinha – o medo de desenquadrar - é apenas um exemplo, mas tem tantos outros, não é mesmo?
O medo de sair de um emprego. O medo de sair de um casamento. O medo de contratar funcionários. O medo de demitir. O medo de voar solo...
Aquela história de zona de conforto, que de confortável não tem nada, né? É como uma roupa apertada que a gente já se acostumou a usar e acha que tá tudo bem seguir assim, preferindo não ter que pensar sobre outras possibilidades.
Honestamente, eu já perdi a conta de quantas vezes alguns discursos naturalizados e de senso comum travaram a ascensão financeira de pessoas que atendi, e pra mim é um privilégio muito grande conseguir desmistificar pautas e traçar, junto com o cliente, caminhos possíveis para realizações de sonhos (tudo com pé no chão).
Tendo a acreditar que todos nós temos as nossas próprias travas (eu tenho as minhas também), e por isso que um olhar profissional e emocionalmente distante da situação permite visualizar a situação de uma forma muito menos enviesada e muito mais criativa.
Ah, o medo que o brasileiro tem dos impostos! Feliz pela tua cliente 🥰
As vezes a gente só precisa de um empurrãozinho, né! Sem isso continuamos paralisados por acreditar que não damos conta, mas no fim sempre podemos um pouco a mais.