Já perdi a conta de quantas vezes me deparei com empreendedores que não têm ideia de quanto (ou como) os seus colegas cobram.
Parece haver um certo constrangimento em tocar nesse assunto. E vou te falar: isso acontece em todas as áreas — dentistas, arquitetos, publicitários, designers, personal trainers, psicólogos e por aí vai. Mas tem me chamado a atenção uma “categoria” em especial: a de planejadores financeiros.
Este ano eu comecei a atuar como supervisora na Nossa, Escola para Planejadores Financeiros, conduzida pela Vívian Rodrigues e pelo Eduardo Amuri. Parte do meu trabalho é oferecer sessões individuais para os planejadores financeiros que estão na Formação. São momentos reservados a conversas francas, e normalmente os assuntos trazidos têm relação com carreira e o próprio modelo de negócio. É a hora de se abrir sobre pontos doloridos, dificuldades particulares — temas que nem sempre têm espaço em grupo. E foi pra lá que alguns alunos levaram a seguinte pauta: “na aula eu descobri que estou cobrando muito barato... barato a ponto de inviabilizar a minha carreira. O que eu devo fazer agora?”.
Este é um erro que vai muito além de números e planilhas.
O quanto conseguimos cobrar pelo nosso trabalho pode ser influenciado pela confiança que temos na nossa entrega, pela nossa origem e classe social, e também depende de como comunicamos o que fazemos. Tem relação com nossa visão de mundo e propósito no trabalho. São tantas camadas a considerar, e dificilmente nos propomos a refletir de forma mais aprofundada, se não fosse a descoberta de que tem uma galera fazendo diferente.
Confesso que sofri pouco com isso em minha vida como autônoma. Comecei minha atuação dentro do time da Papo de Valor, onde sempre conversamos muito sobre tudo que impacta o negócio, por mais dolorido que fosse. Assuntos como preço, tempo de dedicação a cada atendimento, o que está contemplado na entrega e o que não está, como organizar a agenda, o que é (e o que não é) o trabalho em si, o que pode ser melhorado e o que deveria ser reduzido... Todas essas eram pautas recorrentes em nossas conversas, e não tenho dúvida do quanto essa panelinha contribuiu para o crescimento de cada uma de nós.
Creio que esse espaço só foi possível porque tínhamos intimidade e confiança umas nas outras. Afinal, não são temas simples ou superficiais.
Não pense que planejadores financeiros não sofrem com travas para falar de grana. Esse assunto é tabu para todos, pois falar sobre dinheiro nunca é apenas sobre dinheiro. Ao tratarmos desse tema, esbarramos em questões que geram medo do julgamento, vergonhas — uma mistura de sentimentos que todos nós gostaríamos de evitar.
Acontece que alguns assuntos-não-tratados são obstáculos para o crescimento. E não só para nós enquanto indivíduos, mas para o setor como um todo. Quando conversamos com nossos pares, todos crescem, o mercado cresce. É uma forma de usar o olhar do outro para ampliar o nosso próprio olhar.
Por isso, vejo tanto benefício em ambientes como o que a Escola promove. Existe um grupo, mas também há espaço para conversas um a um. Existe a turma e há um incentivo à formação de grupinhos menores.
Sei que a maior parte de quem me lê não é planejador financeiro e nem tem planos de se desenvolver nessa área. Mas sei que é provável que a sua área também careça de um espaço como esse. Seria ótimo se cada um pudesse criar o seu próprio espaço para conversas. Panelinhas com algo entre 4 a 7 pessoas de confiança, onde se possa falar sobre negócios, dinheiro, formas de atuação, o que deu certo e o que deu errado.
Antes de existir a Escola (que hoje ocupa bem esse espaço para mim), eu já tinha a minha panelinha, e hoje sou a maior defensora de que isso funciona.
Profissionais autônomos de todas as áreas, unam-se, pela panelinha do bem.
Uma alegria: compartilhar "panelinhas" contigo 💛
Criar "uma panelinha" na qual as pessoas consigam estabelecer um verdadeiro ambiente de troca sempre pareceu-me algo muito complexo, parece mais obra do acaso do que fruto de um esforço coordenado e premeditado. Isso faz-me formular duas perguntas, uma lógica e outra retórica: (1) haveria a experiência da escola se não houvesse a experiência da papo de valor antes? (2) Como seria o seu desenvolvimento neste campo de atuação se não existisse a experiência da papo de valor. No final, uma pergunta bem opinativa: quais elementos estavam presentes para que a "panela original" da papo de valor, funcionasse?